17 Set 2024

Governo reitera compromisso de aprovar candidaturas aos fundos em 60 dias e pagamentos em 30

De visita às empresas portuguesas de calçado na Micam, em Milão, o secretário de Estado da Economia garante que o executivo tem estado a "corrigir” situações detetadas e que não quer ser "uma barreira ao investimento”.

O secretário de Estado da Economia elogiou ontem a "resiliência” das empresas portuguesas e a sua capacidade de transformar "dificuldades em oportunidades”. João Rui Ferreira visitou a delegação portuguesa na Micam, em Milão, e reiterou o compromisso do governo em agilizar os fundos europeus, implementando, até ao fim do ano, prazos máximos de análise de candidaturas de 60 dias e de pagamento de 30 dias, assumindo que não quer ser uma "barreira ao investimento”. 

"O setor, daquilo que senti, está disponível para investir. Tem é pedido, de facto, mais eficiência ao nível da ação da administração pública e das instituições que coordenam [estes projetos]. Sobretudo, que sejamos mais ágeis nas respostas e pagamentos. Há um compromisso, que é público e estamos a trabalhar intensamente para isso, que é a análise de candidaturas em 60 dias e os pagamentos a 30 dias até ao final do ano. Portanto, temos um esforço enorme de todos para conseguir lá chegar”, disse João Rui Ferreira em resposta aos jornalistas, lembrando que o governo tem procurado, desde que tomou posse, "corrigir algumas questões detetadas, designadamente do ponto de vista das ferramentas e plataformas” associadas à submissão de projetos e de pedidos de pagamento. 

São 40 as empresas portuguesas representadas em Milão e o governante procurou ouvir de cada empresários que visitou quais os maiores desafios com que se confronta e como pode o governo ajudar a ultrapassá-los. E o CEO da Celita, empresa de Guimarães detentora da marca Ambitious, não teve pejo em  apontar os atrasos na avaliação dos projetos de investimento como uma das questões que mais condiciona a atividade empresarial, já que "não só as decisões tardam”, como, quando chegam "já não há dotação orçamental suficiente”, o que se traduz em rateios que levam ajudas inferiores às inicialmente previstas. 

Paulo Martins apontou ainda o impacto que o aumento do custo da mão-de-obra tem tido na produção e, embora reconheça que o caminho tem de ser esse, o da valorização dos salários, pede formas de discriminação positiva, eventualmente em sede fiscal, para os grandes empregadores. "A responsabilidade social de uma empresa que emprega 200 ou 300 trabalhadores é completamente diferente da emprega 20 ou 30. Deveria haver um benefício qualquer, eventualmente na TSU, que ajudaria a aumentar a competitividade e a criar mais empregos”, assegura. 

João Rui Ferreira remete para as negociações em sede de Concertação Social. "Eu quero deixar a discussão nessa esfera onde ela tem que estar, mas a boa notícia é que os empresários percebem que a competitividade tem de vir de vários fatores e sobretudo há esse esforço de sermos competitivos em diferentes ângulos da nossa matriz produtiva”, diz.

Para contornar a questão do aumento do custo da mão-de-obra, mas também da falta de trabalhadores, o grupo Carité, que já emprega mais de 600 pessoas distribuídos pelas suas cinco fábricas em Felgueiras, Celorico e Castelo de Paiva, está a investir fortemente em tecnologia, designadamente em automação, mas também está a subcontratar a produção de gáspeas (a parte superior do calçado) em Marrocos e na Índia. Chegou a fazê-lo na Roménia, onde a determinada altura ponderou instalar uma fábrica, mas o disparar dos salários neste país do leste europeu tornou inviável esta aposta.

"Precisamos de ajustar preços e arranjar formas de sermos competitivos, sem baixarmos a qualidade do produto que fazemos”, refere Reinaldo Teixeira, garantindo que não se trata de deslocalizar produção, que se manterá sempre em Portugal, mas apenas de encontrar formas alternativas de competitividade. Antes da pandemia a Carité ganhou um contrato para abastecimento de 80 mil pares de botas à NATO, mas desde então tem perdidos os vários concursos a que se apresenta, "sempre pelo fator preço”. A Tentoes Trekking, uma marca de calçado de caminhada, que está agora a apresentar a sua terceira coleção,  é outra das apostas da Carité, tendo em vista mercados como o americano, mas o preço continua a ser um desafio.

A Ambitious também já experimentou subcontratar o corte e costura fora do país, mas sem sucesso. "O trabalho manual é muito importante e a qualidade não era a mesma”, admite Paulo Martins, que está a assentar a comunicação da marca, precisamente, na sua experiência como fabricante. É que Itália é o principal destino da marca, um país que está a trilhar um caminho distinto. "A indústria está a desaparecer em Itália e, a médio prazo, isso vai ter consequências”, acredita.

E apesar da conjuntura recessiva dos mercados internacionais, com as exportações portuguesas de calçado a caírem 13,8% em valor, para 1013 milhões de euros, e 1,6% em quantidade, para 41,5 milhões de pares, há novas marcas a nascer. Disso mesmo deu conta o diretor comercial da Kyaia ao secretário de Estado da Economia. O grupo de Guimarães, que detém as marcas Fly London e Softinos, além da parceria com o grupo Amorim n’As Portuguesas, vai apresentar, no final do mês de outubro, à sua rede de agentes a coleção de outono-inverno de 2025 da Fred & Frederico, marca de calçado de outdoor cujo nome é uma homenagem ao fundador do grupo, Fortunato Frederico. Destinado a um público jovem, esta será uma coleção unissexo. "O outdoor está na moda e queremos apresentar um produto que possa ser usado no dia a dia como artigo de moda”, explica Paulo Monteiro, diretor comercial da Kyaia.

O porta-voz da APICCAPS, a associação do calçado, mostra-se satisfeito com os compromissos assumidos pelo governo, de agilização dos apoios. Paulo Gonçalves fala numa "excelente medida”, que será um "estímulo para que mais empresas possam associar-se a iniciativas promocionais no exterior”. As expectativas para esta edição da Micam, que decorre em Milão até amanhã, é que seja "nova alvorada”  para o setor. "O movimento nos corredores parece-nos muito interessante. Sentimos sinais claros de uma recuperação dos mercados internacionais. A baixa das taxas de juro, a inflação normalizada naturalmente, são boas notícias e poderão servir naturalmente como estímulo ao consumo”, diz Paulo Gonçalves.
Fonte: In, Diário de Notícias
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