Eva Gonçalves tem 15 anos e criou marca para realizar sonho

Eva Gonçalves, natural de Argoncilhe, criou a Zeva Horses, marca de acessórios para equitação. Aos 15 anos, tem um objetivo claro com o negócio: conseguir realizar o sonho de ter o seu próprio cavalo para treinar e competir

Pelas mãos do avô paterno, Eva começou a fascinar-se pelo mundo da equitação. As idas a casa dos avós significavam uma visita ao centro hípico, sediado ao lado da residência familiar, para esta apreciar os cavalos. Aos seis anos, montou pela primeira vez e, desde então, não conseguiu afastar-se mais do animal.

No entanto, a prática de equitação não está entre os desportos mais económicos, comportando custos elevados para a família Gonçalves. Por isso, possuir um cavalo sempre pareceu um sonho distante para a jovem. "Inicialmente, comecei a praticar a modalidade numa vertente mais acessível, a de escola, em que não temos de ter cavalo próprio. Mas, nestas condições, o animal é montado várias vezes por dia, o que significa que estamos mais limitados no que podemos fazer, porque à medida que vamos evoluindo, o cavalo já não tem tanta disponibilidade física e mental para suportar grandes alturas. Como a minha modalidade é a de saltos de obstáculos, preciso de um cavalo para poder treinar com mais frequência e sustentá-lo não é possível a uma boa parte da população portuguesa, como é o caso da minha família", explica Eva, que calcula necessitar, em média, "entre 400 a 900 euros por mês" para manter o animal (entre alimentação, aluguer de boxe num centro hípico e veterinário).

Ora, determinada a consegui-lo, decidiu pôr mãos à obra e aproveitar as suas habilidades para o desenho. "Comecei a desenvolver as ideias em julho de 2023 e lancei a Zeva Horses em dezembro. Como gosto de artes, desenhei o logo da marca e os produtos, que são cintos, um acessório de moda que tanto dá para o dia a dia como para a equitação".

Desenhados por quem ama equitação, os cintos não tiveram, de imediato, o aval dos fabricantes. "Defini a coleção e o mais complicado foi aceitarem a ideia nas fábricas. Queria que o cinto tivesse brilhantes e diziam-me que não era possível. Foi difícil encontrar quem produzisse o modelo com os materiais que queria", expõe sobre a marca registada de moda e acessórios para equitação, "desenhada para promover a elegância na prática deste desporto".

Até então, com três cintos disponíveis para venda, em três tons, o fabrico é 100% português e os materiais são provenientes de fornecedores certificados pelas normas europeias de gestão ambiental, como indica a fundadora da marca. "Sempre fomos apaixonados pela natureza e respeitamos muito os animais. Por isso, o nosso objetivo é apoiar, conservar e cuidar do planeta, fazendo escolhas que tenham o menor impacto possível no ecossistema. Os materiais que utilizamos foram escolhidos para proporcionar artigos de elevada qualidade e durabilidade, mas que garantam em simultâneo o respeito e o cuidado pela natureza em todas as suas formas", diz, asseverando que as peles são genuínas e 100% eco-friendly. "A pele que utilizamos são provenientes das indústrias de laticínios e carnes. O aproveitamento que fazemos da pele do animal impede que estas sejam desaproveitadas por serem consideradas desperdício por estas indústrias", explica.

Além dos cintos femininos, a Zeva Horses terá, a curto prazo, cintos masculinos e peças de vestuário. "Os cintos continuarão a ser acessórios de equitação, porque combinam com as calças e os outfits usados nos concursos, mas também dão para usar noutras ocasiões, no dia a dia. Futuramente teremos cintos masculinos e já estamos a iniciar algumas peças de vestuário, como poios de competição", avança Eva Gonçalves, que conta com o apoio dos progenitores para poder levar avante as ideias.

Inspirar os outros a fazerem o mesmo

Com produtos desenhados pela própria, a jovem tem conseguido conquistar alguns clientes, desde cavaleiros amadores/profissionais a cidadãos comuns. Além das parcerias, apostou nas redes sociais para divulgar a marca. "Inicialmente, foquei-me muito no público da equitação, mas é difícil entrar nesse nicho porque não confiam nas novas marcas. Consegui uma embaixadora jovem que participa em vários concursos e ajuda-me a divulgar. Também me juntei a uma loja e consegui vender alguns cintos. Vou espalhando a palavra", afirma.

Contudo, ainda está longe de alcançar o sonho de ter um cavalo e meios para o sustentar mensalmente, mas está mais perto do que há um ano. "O nosso lucro ainda não é significativo. Mas já estamos mais perto de alcançar o objetivo do que estávamos quando iniciámos", diz a jovem estudante, que deste modo tenta também inspirar outras pessoas da sua idade a perseguirem os seus sonhos, por mais difíceis que pareçam. "Na nossa idade, é difícil percebermos no que somos bons. Mas sempre soube as pequenas áreas para as quais tinha jeito, por isso foi fácil focar-me nisso. Quando descobrimos o nosso potencial, é só focarmo-nos e conseguimos fazer coisas extraordinárias. Quero também transmitir aos outros que nunca desistam dos seus sonhos, mesmo que achem que a ideia é impossível. Também achei durante muito tempo que o meu sonho era impossível e encontrei uma forma de o tornar possível".

A terminar o 9.° ano no Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, em Espinho, Eva Gonçalves irá prosseguir estudos na área da Economia, conciliando assim as duas áreas atuais - equitação e negócio.

No que à paixão pela equitação diz respeito, até colher frutos com a Zeva Horses, continuará limitada nos objetivos. "Atualmente, a minha égua é emprestada e partilho com mais dois colegas, porque a mensalidade é alta, então só posso montar duas vezes por semana. Queria começar a saltar outras alturas, mas estou limitada", confessa, pese embora se mostre esperançosa que com persistência conseguirá treinar e competir com o seu próprio cavalo, provando que os sonhos podem tornar-se realidade.

Recentemente, venceu o prémio 'Empreendedorismo Social' na Mostra Nacional de Jovens Empreendedores, organizada pela Fundação da Juventude.