17 Set 2024

Certificação GRS: O Novo Passo da Kayak Storm no Calçado Reciclado

Empresa apresenta modelos certificados na próxima edição da Micam

Com sede em Santa Maria da Feira, a Kayak Storm tem-se destacado na produção de calçado masculino há mais de duas décadas, com um volume de negócios anual de cinco milhões de euros e uma presença internacional em mercados como Europa, Coreia do Sul, Japão, África do Sul e Norte de África. Nos últimos 13 anos, a empresa tem apostado fortemente na utilização de materiais reciclados, produzindo calçado com uma composição de até 90% de material reciclado (em peso).

Recentemente, a Kayak Storm alcançou um marco importante ao obter a certificação GRS (Global Recycled Standard) para alguns dos seus produtos, com o apoio técnico do CTCP. Os novos modelos certificados serão apresentados na próxima edição da Micam, em Itália, de 15 a 17 de setembro. Nesta entrevista, Pedro Lima, gestor da Kayak Storm, partilha a sua visão sobre a importância desta certificação e o futuro da empresa no mercado de produtos sustentáveis.

Entrevista

1 - O que motivou a empresa a procurar a certificação GRS para este produto?
Há cerca de um ano, várias empresas nossas clientes mencionaram a necessidade de termos a certificação GRS para continuarem a trabalhar connosco. Esse foi o ponto de partida. Como já tínhamos bastante experiência no fabrico de calçado reciclado, e sendo que o GRS envolve não só a componente de materiais reciclados, mas também questões sociais e ambientais, acreditámos que fazia sentido investir nesta certificação. Além disso, aproveitámos a oportunidade para melhorar alguns processos internos que necessitavam de ajustes. Esse foi o impulso inicial.

2 - Há quanto tempo utilizam materiais reciclados na produção de calçado?
Há 13 anos que produzimos os primeiros sapatos reciclados. Na altura, era um processo quase artesanal, pois não havia muitos materiais reciclados disponíveis no mercado. Trabalhámos de perto com os nossos fornecedores para explorar opções. Inicialmente, muitos fornecedores ofereciam percentagens mínimas de material reciclado, alegando que o consumidor não queria que os produtos "parecessem" reciclados. No entanto, nós defendemos que a aparência reciclada devia ser uma característica visível e valorizada. Ao longo dos anos, a mentalidade mudou e, hoje, podemos adquirir componentes com percentagens elevadas de material reciclado, o que facilita bastante o processo. Neste momento, por exemplo, o nosso maior cliente só nos compra produto reciclado. Tudo o que nos compra não é certificado, mas é reciclado.

3 - Quais foram os principais desafios durante o processo de certificação?
O maior desafio foi a adaptação técnica da empresa às exigências da norma. Tivemos de fazer investimentos significativos, especialmente na gestão de efluentes gasosos. Também atualizámos a componente de higiene e segurança no trabalho. Em termos sociais já seguimos as regulamentações europeias, mas foi preciso demonstrar que estávamos em conformidade. Este foi um trabalho de ajustes e melhorias em várias áreas da fábrica.

4 - Que benefícios acredita que a certificação trará à empresa?
Até agora, ainda não sentimos um impacto significativo, dado que somos certificados apenas desde julho. No entanto, já notámos um maior interesse de empresas que se identificam com a sustentabilidade e que reconhecem o valor da norma. A certificação GRS é mais conhecida entre empresas e menos pelo cliente final, mas ajuda a abrir portas para novos mercados e fortalecer relações com clientes que valorizam esses padrões.

5 - Na vertente social, já implementaram alguma medida específica?
Implementámos todas as medidas exigidas pela norma. Em muitos casos, não houve alterações, mas tivemos de explicitar certas práticas que já seguiam a lei. Também houve pequenas melhorias, como a instalação de lava-olhos na fábrica, que, embora não sejam exigências legais, foram recomendadas pelos auditores como importantes para a segurança no trabalho.

6 - Houve mudanças na cadeia de fornecimento?
Sim, o produto GRS é uma linha distinta no nosso portfólio, com fornecedores muito específicos. Fizemos um trabalho intenso na componente das solas, por exemplo, e conseguimos evoluir para solas com 90% de reciclado certificado GRS. Trabalhamos com fornecedores portugueses, mas também recorremos a fornecedores espanhóis e italianos para materiais que ainda não estão disponíveis com certificação GRS em Portugal.

7 - Já têm uma linha completa de produtos certificados GRS ou apenas um modelo?
Neste momento, temos 3 ou 4 modelos certificados GRS e vamos apresentar mais 3 ou 4 modelos na MICAM.

8 - Quais são as suas expectativas de aceitação do mercado na MICAM?
Sinceramente, não esperamos grandes vendas diretamente relacionadas com a certificação GRS. Isto porque a norma exige que toda a cadeia de produção, tanto a montante como a jusante, seja certificada. Ou seja, os nossos clientes também precisam de ser certificados ou usar a nossa marca. A maioria prefere usar as suas próprias marcas, o que limita o impacto junto do consumidor final. Contudo, para alguns clientes específicos, a certificação GRS é uma garantia de conformidade social e ambiental, e isso fortalece a nossa posição no mercado.

9 - Acredita que a certificação GRS é uma tendência? Como vê o futuro da moda sustentável no setor?
Do meu ponto de vista, a sustentabilidade continuará a ser um nicho importante, embora não predominante. O GRS oferece vantagens, como a possibilidade de trabalhar com margens mais interessantes e a melhoria de processos internos. Para nós, a certificação GRS é uma aposta estratégica, mas continuamos a produzir outras linhas de produtos reciclados que não são certificadas, mas que têm maior procura. Portanto, o GRS complementa o nosso portfólio sustentável.
Fonte: In, CTCP
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