15 Jul 2024

Abu Dhabi procura empresas portuguesas para levar negócio aos EAU

Captar inovação e talento, atrair investimento e potenciar os negócios e as exportações das empresas que ali se fixem está nos ambiciosos planos do país. Em entrevista ao SAPO, Dawood Al Shezawi, presidente da AIM Global Foundation, explica como os Emirados estão a tornar-se num hub de negócios único no mundo.

Hub do metaverso e da Inteligência Artificial (IA), centro do comércio mundial, capital global das startups e da inovação, muitas são as fórmulas que se encontram escritas a ditar o futuro que os Emirados Árabes Unidos (EAU) vêm desenhando pelo mundo, uma vontade que não se fica pelo plano das intenções. Para concretizar o ambicioso projeto de transformar radicalmente a sua economia, historicamente dependente dos combustíveis fósseis, os Emirados deram, nos últimos anos, passos de gigante que incluíram políticas públicas e fiscais potenciadoras de atração de investimento.

"Diversificar é palavra de ordem para a nossa economia", resume, em entrevista, Dawood Al Shezawi, presidente da AIM Global Foundation — organização internacional independente do Abu Dhabi, focada na promoção de desenvolvimento económico e cooperação internacional —, que esteve na QSP Summit, no Porto, e aceitou falar em exclusivo ao SAPO.

Numa conversa de meia hora à margem da sessão especial dedicada à Falcon Economy, o responsável pela gestão de um fundo de 30 mil milhões de dólares (27,5 milhões de euros) explica que a transformação tem de passar pela tecnologia e pela inovação. Objetivo?

"Queremos duplicar o nível de investimento direto estrangeiro na nossa economia, atingindo 73 mil milhões de dólares." A ideia é usar os trunfos dos Emirados para fazer de Abu Dhabi um poderoso hub de negócios. E as empresas portuguesas fazem parte da equação, vinca o executivo, que se confessa impressionado com Portugal. E com vontade de voltar em breve.

"O tamanho do país não conta nada", responde Al Shezawi, questionado sobre que atrativos aqui encontra para os EAU. Antes elogia a capacidade empreendedora, a inovação e o talento lusos, características que despertaram a atenção dos EAU, com o convite de Pedro Rodrigues (presidente do PBC - Portuguese Business Council Abu Dhabi e Global Chairman na PLM Global, que fez a gestão logística e criou o restaurante do Pavilhão de Portugal na Expo Dubai) a selar a decisão de vir ao Porto lançar um desafio. "Podemos e devemos aumentar as trocas entre nós, apostar mais nas relações comerciais bilaterais." A ideia é captar empresas para se fixarem no Abu Dhabi e dali poderem fazer negócios para o mundo, aproveitando a localização dos Emirados.

É nesta lógica de cativar empresas que possam instalar-se no Abu Dhabi e criar valor — para elas e para a economia local — mas também transformar os Emirados num hub de negócios que se centra todo o discurso de Dawood Al Shezawi. E não são apenas palavras: no Porto, aproveitando o QSP Summit, o presidente da AIM assinou com o PBC um Memorando de Entendimento que vai "facilitar às empresas portuguesas a entrada no mercado dos Emirados", sublinha Dawood. "Através da nossa reunião anual (AIM) e do congresso e missões empresariais, conseguimos apoiar o Portuguese Business Council na sua tarefa de dar a mão às empresas portuguesas que aceitem o desafio de chamar casa aos EAU e a partir de Abu Dhabi chegar a outras regiões do mundo", explica ao SAPO.

Abu Dhabi no centro do mundo de negócios

Com a balança comercial entre os dois países a dar ainda uma pequena vantagem a Portugal (exportações 123 milhões acima do que compramos aos EAU), Al Shezawi mostra-se entusiasmado com o crescimento potencial também nas trocas bilaterais de bens e serviços. "As nossas economias têm trabalhado muito para aumentar as trocas comerciais e estamos ansiosos por conseguir cativar em Portugal mais indústria e produções inovadoras que contribuam para o nosso objetivo de ter nos Emirados um hub de negócios. A partir de Abu Dhabi, as empresas têm acesso a uma região muito mais extensa com enorme potencial, podem reexportar para África e Ásia, servir outros stakeholders e alcançar novos mercados", concretiza ainda o responsável.

Depois, faz questão de recordar que os Emirados "estão a uma distância de 4 horas de um terço do mundo, o que permite estender serviços do Médio Oriente a África e à Ásia, beneficiando deste ponto de ligação privilegiado entre leste e sul. E que setores podem ser particularmente interessantes para Portugal de afirmar ali? "Da hospitalidade e turismo a todas as áreas de healthcare, passando por inovação, IA, indústria do espaço e fintech, há negócios muito importantes. A nossa prioridade é que invistam nos Emirados e se estabeleçam ali para poderem chegar mais longe, vender melhor para várias partes do mundo, inovar e crescer mais."

E o inverso? Podem os Emirados descobrir também oportunidades de investimento em Portugal? "Porque não? É natural que este movimento faça despertar a atenção para empresas portuguesas que se destaquem. Há investidores dos EAU que certamente terão interesse em investir ou criar joint ventures", responde Dawood, recordando a posição dos EAU como "um dos maiores investidores em países terceiros" e apontando, no caso português, as áreas de segurança alimentar e sobretudo a economia azul. "A economia azul tem um potencial incrível e podemos beneficiar disso; há muita inovação nesse setor e startups a fazer um trabalho notável."

O conselho de quem sabe: "Agarrem já a oportunidade"

Os EAU têm feito um caminho rápido na sua via para construir uma economia não dependente de combustíveis fósseis, tendo já conseguido libertar praticamente um terço da riqueza do petróleo. Nisso teve um papel fundamental a nova lei do Investimento Direto Estrangeiro, publicada em 2018, e que passou a permitir 100% de participação estrangeira por investidores globais nos EAU, provocando um movimento de expansão e diversificação da base de produção que prioriza áreas como a tecnologia avançada, conhecimento e formação, com os Emirados a trabalhar para aumentar o fluxo de investimento direto estrangeiro nos setores prioritários, de forma a alcançar um desenvolvimento equilibrado e sustentável, criar oportunidades de emprego e alcançar o melhor retorno com os recursos disponíveis, garantindo alto valor acrescentado para aquela economia.

Em 2022, os Emirados Árabes Unidos atraíram já 23 mil milhões de dólares em investimento estrangeiro, o maior valor registrado pelo país num só ano. E nessas contas entram fatores determinantes como um plano fiscal único que oferece 0% de taxa de IRC às empresas e também não taxa os rendimentos do trabalho.

Se tudo isto não fosse suficiente, o que diria Al Shezawi a um empresário para o convencer a tomar a decisão de apostar nos Emirados?

"Diria que estudassem o ecossistema e percebessem as razões que fazem dos EAU um melhor destino de investimento do que qualquer outro país da região. Pela segurança que oferece aos investimentos, pela estabilidade legislativa e governamental, pela segurança e solidez política. Tudo isto são vantagens que temos e que fazem a diferença na hora de potenciar crescimento e negócio. Por isso, diria que agarrassem já a oportunidade."

Quanto à instabilidade geopolítica que penaliza boa parte da região, Dawood acredita que é mais um fator de crédito para os EAU. "O tema geopolítico está a mexer com todo o mundo, mas este Estado, pela solidez das suas fundações, pela estabilidade da liderança política, por oferecer um ambiente positivo para negócios, por ter políticas fiscais muito atrativas, destaca-se pela positiva. Foi isso que nos permitiu tornarmo-nos, nos últimos anos, no mais atrativo mercado de investimento estrangeiro do mundo."

De resto, os investimentos de Abu Dhabi também são consideráveis, tendo o país consolidado a posição como líder regional e global de investimento no estrangeiro. Para o país, a prioridade é assumidamente a transição energética. "O governo está a trabalhar muito para diversificar a economia e lançou este programa estratégico apoiado na inovação, em tecnologia avançada e com o foco da sustentabilidade. Todo o nosso comércio e indústria está a ser montado em sistemas sustentáveis. O ano 2024 é o ano da sustentabilidade e ela está embebida no nosso ecossistema de negócios, e isso passa muito pela inovação. Acredito firmemente que sem inovação os negócios não podem crescer."

O plano, que inclui uma fortíssima aposta em energia solar, é chegar a 2050 praticamente suportado em energia verde.

A economia do falcão já voa? Dawood Al Shezawi nem hesita: "Voa! Já atingimos muitos dos nossos objetivos, mas queremos chegar ainda mais longe. Somos um país de conquistas."



Fonte: In, Sapo.pt
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